quinta-feira, 20 de novembro de 2008
José Paulo Paes
Poesia é brincar com palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. Só que bola, papagaio,pião de tanto brincar se gastam. As palavras não: quanto mais se brinca com elas mais novas ficam. Como a água do rio que é água sempre nova. Como cada dia que é sempre um novo dia. Vamos brincar de poesia?
Amizade é...
Pensava em lealdade
Como se fossemos irmãos
Filhos da mesma vontade
Quando falei em dar as mãos
Pensava em amizade
Como se fossemos cidadãos
Conhecedores da nossa realidade
Quando falei em dar as mãos
Pensava em liberdade
Como quem semeia os grãos
Sonhando com a igualdade
Quando falei em dar as mãos
Pensava em fraternidade
Operários camponeses artesãos
Intelectuais e restantes cidadãos
Unidos pela solidariedade.
Brincando com as Palavras
Com as palavras...Brincava
Com elas eu desenhei
O futuro e acreditei
Que nele tudo se conjugava
Fiz muitas frases com elas
Algumas para recordar
Escrevi páginas tão belas
Abri portas abri janelas
Eu fiz o Mundo pensar
Misturei ternura com amor
Só para ver o que dava
Apareceu-me um mundo melhor
Sem diferenças físicas ou de cor
Onde toda a gente se respeitava
Era o tempo de paz e alegria
Do amor e da fraternidade
A água cristalina nos rios...Corria
Levou-me as palavras e a fantasia
Deixando a descoberto a realidade.
Josémanangão
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
ROMANCE DAS PALAVRAS AÉREAS (Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência)
"Ai, palavras, ai, palavras,que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras,sois de vento, ides no vento,no vento que não retorna,e, em tão rápida existência,tudo se forma e transforma!Sois de vento, ides no vento,e quedais, com sorte nova!Ai, palavras, ai, palavras,que estranha potência, a vossa!Todo o sentido da vidaprincipia à vossa porta;o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa;sois o sonho e sois a audácia,calúnia, fúria, derrota...A liberdade das almas,ai! com letras se elabora...E dos venenos humanossois a mais fina retorta:frágil, frágil como o vidroe mais que o aço poderosa!Reis, impérios, povos, tempos,pelo vosso impulso rodam...Detrás de grossas paredes,de leve, quem vos desfolha?Pareceis de tênue seda,sem peso de ação nem de hora...- e estais no bico das penas,- e estais na tinta que as molha,- e estais nas mãos dos juizes,- e sois o ferro que arrocha,- e sois barco para o exílio,- e sois Moçambique e Angola!Ai, palavras, ai, palavras,ídeis pela estrada afora,erguendo asas muito incertas,entre verdade e galhofa,desejos do tempo inquieto,promessas que o mundo sopra...Ai, palavras, ai, palavras,mirai-vos: que sois, agora?- Acusações, sentinelas,bacamarte, algema, escolta;- o olho ardente da perfídia,a velar, na noite morta;- a umidade dos presídios,- a solidão pavorosa;- duro ferro de perguntas,com sangue em cada resposta;- e a sentença que caminha,- e a esperança que não volta,- e o coração que vacila,- e o castigo que galopa...Ai, palavras, ai, palavras,que estranha potência, a vossa!Perdão podíeis ter sido!- sois madeira que se corta,sois vinte degraus de escada,- sois um pedaço de corda...- sois povo pelas janelas,cortejo, bandeiras, tropa...Ai, palavras, ai, palavras,que estranha potência, a vossa!Éreis um sopro na aragem...- sois um homem que se enforca!
dedos coloridos
Sempre Criança
Menino, vem, vou te levar pra verpaisagens pra brincar,não vais querer crescer:Veja quem vai nos levarpor esse pedaço de céu.É o meu cavalo Carrossel...Com o teu jeito de criança,vais teimar com o vento,e rir das marcas dos teus pés pelos caminhos.E um dia já distante,em uma janela da cidade,lembrarás desses campos,com saudades...
sábado, 25 de outubro de 2008
os poetas são estrelas
Poetas são seres estranhos...Poetas vivem apenas de sonhos... Ou fazem da realidade um sonho?Alem de sonhar sonhos impossíveis,muitas vezes os tornam realidade e assim, falam em felicidade...Falam em sonhos,sempre risonhos,sonhos que sobrevivem do amor, e de nossa capacidade,para torna-los realidade...Se ficarem esquecidos,em algum canto perdidos, perderemos a nós mesmos...É muito bom ter essa capacidade de sonhar,que nos desperta para a vontade de amar...Amar sem restrição,e de todo coração...Poetas que somos, pela poesia vivemos, com poesia morreremos...
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Recriando a trajetória de Pinóquio, o famoso boneco do autor italiano Carlo Collodi, Rubem Alves nos oferece uma nova leitura - Pinóquio às avessas. Nesta versão ele aponta para o perigo que correm nossas crianças ao ingressarem em escolas que não consideram o seu potencial e suas capacidades individuais e criativas, tentando enquadrá-las num sistema educacional rígido, conservador, anacrônico e sufocante. O conto é, assim, apresentado "às avessas" para provocar uma reflexão que suscite mudanças significativas em favor de uma educação verdadeira, edificante, que preserve na criança - no ser humano - a capacidade de sonhar, de criar, de transformar, de se realizar.
poesias tem cheiros
A riqueza em produzir poesias diante de brinquedos, pinturas, desejos, imaginação, sons e musica garante uma experiência diversificada em sentidos, relações, conhecimentos e muita criatividade. É uma possibilidade de saborearmos novidades nos encontros e desencontros que vivemos, relacionando-as com os nossos próprios mundos.
Poesia como campo de produção expressiva: ampliação das experiências das crianças
Por isso, trazer a linguagem poética para o cotidiano da criança significa potencializar o modo de produção inventivo, a capacidade expressiva da linguagem, permitindo o re-encontro da palavra com o movimento, do som com a imagem, muitas vezes enfraquecidos quando tomamos a linguagem escrita como marca do real, decodificação de som, de modo instrumental.
mostrar a perene novidade da vida e do mundo, atiçar o poder de imaginação das pessoas, libertando-as da mesmice da rotina; fazê-las sentir mais profundamente o significado dos seres e das coisas, estabelecer entre essas correspondências parentescos inusitados que apontem para uma misteriosa unidade cósmica; ligar entre si o imaginado e o vivido; o sonho e a realidade como partes igualmente importantes de nossa experiência de vida (Paes, 1996:27)
Mais do que a rima, a poesia destaca-se pela repetição de sons semelhantes em palavras próximas, pelo ritmo dos versos, comparações e oposições de sentido, ou seja, recursos que dão vivacidade, sugestividade e poder de sedução à linguagem. Mais do que aproximar-se do cotidiano da criança, promovendo relações com a experiência vivida (o que faz a prosa/narrativa), a poesia tende a chamar a atenção da criança para as surpresas que podem estar escondidas na língua.
Trata-se de descobrir novas possibilidades para palavras já conhecidas, explorar caminhos inusitados entre elas. Na poesia, é possível dizer algo ao contrário do que é na realidade, criar efeitos novos para elementos já conhecidos, realizar a produção do "novo" como re-criação do "velho", tal como propõe Vygotsky.
Desta forma, podemos perceber a conexão estreita entre as poesias e a dança, à medida que a leitura de algumas sugere movimentos, e ritmos. Ou, a conexão com produção plástica, à medida que alguns objetos e pinturas sugerem poesias e estas mobilizam produção de imagens.
escolas e nas salas de
Escutar os alunos. As suas dúvidas, as suas respostas, os seus silêncios. Porque um programa só existe para fazer com que os alunos cresçam em sabedoria e sensatez e desenvolvam todo o potencial possível. Escutar para compreender os bloqueamentos e ajustar os desafios.
Escutar os professores. As suas amarguras sentidas, os seus desânimos, as suas alegrias. Porque o trabalho cooperativo só tem condições de realização se for possível ir construindo uma comunidade de profissionais do mesmo ofício. E é sabido que para enfrentar (com um relativo êxito) a enorme complexidade do fazer aprender cada um dos alunos (mesmo daqueles que não querem) só um pensar colectivo tem condições de sucesso.
É, pois, muito necessária um pedagogia da escuta. Que requer humildade, atenção e disponibilidade. Que requer uma aprendizagem para estar calado. Que requer talento e lucidez. Porque há um excesso de fala, um défice de compreensão e de comunhão.
“Para ouvir não basta ter ouvidos. É preciso parar de ter boca. Sábia, a expressão: sou todo ouvidos – deixei de ter boca. Minha função falante foi desligada. Não digo nada nem para mim mesmo. Se eu dissesse algo para mim mesmo enquanto você fala seria como se eu começasse a assobiar no meio do concerto.” (Rubem Alves)
É preciso ensaiar uma prática mais sistemática da escuta nas nossas escolas e nas salas de aula. Escutar para compreender. Compreender para ajustar o ensino, a avaliação e gramática de funcionamento da organização. Compreender para ensaiar novos processos de trabalho.
Escutar os alunos. As suas dúvidas, as suas respostas, os seus silêncios. Porque um programa só existe para fazer com que os alunos cresçam em sabedoria e sensatez e desenvolvam todo o potencial possível. Escutar para compreender os bloqueamentos e ajustar os desafios.
Escutar os professores. As suas amarguras sentidas, os seus desânimos, as suas alegrias. Porque o trabalho cooperativo só tem condições de realização se for possível ir construindo uma comunidade de profissionais do mesmo ofício. E é sabido que para enfrentar (com um relativo êxito) a enorme complexidade do fazer aprender cada um dos alunos (mesmo daqueles que não querem) só um pensar colectivo tem condições de sucesso.
É, pois, muito necessária um pedagogia da escuta. Que requer humildade, atenção e disponibilidade. Que requer uma aprendizagem para estar calado mas presente. Que requer talento e lucidez. Porque há um excesso de fala, um déficit de compreensão e de comunhão.
quem sao as crianças?
A- as crianças podem compartilhar seus conhecimentos e saberes, sua criatividade e imaginação por meio de múltiplas linguagens, sem enfatizar nenhuma. As múltiplas linguagens se evidenciam através do desenho, do canto, da dança , da pintura, da interpretação, enfim, divulgadas por distintas passagens que se somam na execução do projeto e nos saberes que são construídos. Anotar, fotografar, gravar e filmar são partes principais da rotina. B- O mundo de conhecimentos não está dividido em assuntos escolares, mas é um grupo único, onde certas áreas são sugeridas por meio de projetos com uma matéria de trabalho. C- A interação entre o adulto e a criança deve ser uma parceria, na qual interesses e envolvimentos recíprocos devem permanecer e interagir para que um objetivo comum seja alcançado: o saber.
Sobre "Caixa para Guardar o Vazio"*, uma parceria da Artista Plástica Fernanda Fragateiro com o Serviço Educativo do Teatro Viriato e a coreógrafa Aldara Bizarro.... a performance termina com uma conversa: sentados em cima do tapete preto, fofinho, é altura de partilhar sensações e fazer perguntas.Quando fui assistir pela segunda vez a "Caixa para Guardar o Vazio" havia bastantes crianças das quais uma menina perguntou: porque deram esse nome? Em resposta, difícil, os bailarinos tentaram falar sobre o vazio: imagina que tens uma caixa sem nada e lá dentro podes guardar tudo o que quiseres...Seguiram outras perguntas e, novamente, a questão do vazio, não tinha ficado clara. Mas o que é o vazio? Porquê que esta caixa, cheia de coisas e, simultaneamente, cheia de nada, serve para guardar o vazio? Onde é que ele está?É aqui que surge uma intervenção maravilhosa da nossa colega Ana Carreira: Olha! Imagina que um dia alguém te oferece uma caixa muito muito bonita para tu poderes guardar o que quiseres lá dentro. Mas essa caixa é tão bonita que acabas por ficar todo o tempo a imaginar tudo o que de tão especial poderias lá pôr.A menina pareceu compreender e eu fiquei a pensar: O vazio está cheio, cheio de nada e de tudo ao mesmo tempo, como a nossa imaginação, talvez seja um lugar vazio, o lado de lá do espelho do nosso pensamento...
brincar cantando e aprendendo
Impossível determinar-se o seu aparecimento através dos povos e do tempo. Sempre existiram, entre todos os povos, através do cancioneiro folclórico infantil, para alegria das crianças e de todos, quer através das cantigas de ninar, das toadas ou das cantigas avulsas. Sua origem pode ser rebuscada nos restos de velhas cerimônias dos povos do passado, em caráter de jogos e folguedos, que, posteriormente, em formas de entretenimento das crianças.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Ler Clarice Lispector é...
Ler Clarice é...
Teresa Montero
Ler Clarice é viver em permanente estado de paixão. Ler Clarice exige uma mudança de postura do leitor no modo pelo qual ele se aproxima do texto. É que o texto de Clarice pede uma escuta atenta, uma entrega de quem o lê. Clarice fala de coisas presentes no nosso dia-a-dia, o modo pelo qual reagimos aos acontecimentos mais banais, como andar na rua, olhar-se ao espelho ou conversar com um amigo. Ela nos mostra, também, outras coisas vivenciadas interiormente, aqueles momentos sem palavras dos quais só o nosso coração testemunha. Clarice escreve textos como quem vai desvelando a realidade, sondando os gestos, os olhares; tudo tão sutilmente que quando o leitor se dá conta vê-se diante de um instante mágico, especial, ao reconhecer a sua vida, a si mesmo, através daquelas palavras.
Ler Clarice é uma oportunidade de mudar o seu olhar diante do universo. É estar disponível para se aventurar no seu interior de forma irracional, sem censuras. Deixar-se levar pela imaginação, pela intuição e usá-las como forma de conhecimento.
Ao publicar A paixão segundo G.H., Clarice escreveu uma pequena nota introdutória onde pedia que este livro só fosse lido por pessoas de alma já formada. Isso mostra até que ponto pode-se absorver o que o seu texto diz. Ao ler Clarice deve-se estar disposto a aceitar o não entendimento de determinados processos da vida. Clarice dizia: “Suponho que entender não seja uma questão de inteligência, mas uma questão de sentir, de entrar em contato.” Isso faz parte do caminho aberto pelo seu texto. Cada leitor contém a sua bagagem particular de experiências, sensações, acionadas no momento da leitura; Clarice sabe disso e valoriza estas particularidades. Seu texto é um convite permanente ao "viver ultrapassa todo o entendimento" (palavras de Clarice).
clarice lispector
Aqueles que passam por nós
"Se eu pudesse novamente viver a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvetes e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e profundamente cada minuto de sua vida; claro que tive momentos de alegria. Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente de ter bons momentos.Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não percam o agora. Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e, se voltasse a viver, viajaria mais leve.Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono. Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente
Se eu tivesse que viver minha vida novamente....
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Algo que sai da minha boca, da tua boca, da boca deles. mas para que serve? para me exprimir, para te exprimires, para eles se exprimirem. gosto de as por cá fora para que brinquem com outras que saiem de outras bocas. mas por vezes por mais que queira elas não saiem. puxo e puxo com mais força, mas não vale a pena. o que faço? desisto? não. não saiem pela boca, saiem pela ponta de uma caneta directamente para uma simples folha branca de papel. uma folha disposta a receber as minhas palavras, as minhas ideias, os meus pensamentos, o que vai dentro de mim. e ela (a folha) não se queixa, limita-se a ficar ali quieta, toda esticada para que a caneta consiga passar o que quero. recebe as palavras e ficam ali todos em onjunto, folha, palavras, pontuação e tinta. a folha fica cheia, é o abrigo das palavras. para que estas não se vão embora e fiquem neste abrigo para sempres. fecho-o. dobro a folha, uma e outra vez, ali fica ela, no abrigo das folhas, que contém palavras ditas num momento que mais tarde não terão o mesmo significado.
Millôr Fernandes
Às folhas tantas do livro matemáticoum Quociente apaixonou-seum dia doidamentepor uma Incógnita.Olhou-a com seu olhar inumerávele viu-a do ápice à baseuma figura ímpar;olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides.Fez de sua uma vida paralela à delaaté que se encontraram no infinito."Quem és tu?", indagou eleem ânsia radical."Sou a soma do quadrado dos catetos.Mas pode me chamar de Hipotenusa."E de falarem descobriram que eram(o que em aritmética correspondea almas irmãs)primos entre si.E assim se amaramao quadrado da velocidade da luznuma sexta potenciação traçando ao sabor do momentoe da paixãoretas, curvas, círculos e linhas sinoidaisnos jardins da quarta dimensão.Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianae os exegetas do Universo Finito.Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E enfim resolveram se casarconstituir um lar, mais que um lar, um perpendicular.Convidaram para padrinhoso Poliedro e a Bissetriz.E fizeram planos, equações e diagramas para o futurosonhando com uma felicidade integral e diferencial. E se casaram e tiveram uma secante e três conesmuito engraçadinhos.E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinalmonotonia.Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comumfreqüentador de círculos concêntricos,viciosos. Ofereceu-lhe, a ela,uma grandeza absolutae reduziu-a a um denominador comum.Ele, Quociente, percebeuque com ela não formava mais um todo,uma unidade. Era o triângulo, tanto chamado amoroso.Desse problema ela era uma fração, a mais ordinária. Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividadee tudo que era espúrio passou a ser moralidadecomo aliás em qualquer sociedade.
Texto extraído do livro "Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág. sem número, publicado com o pseudônimo de Vão Gogo.
sábado, 23 de agosto de 2008
Pairam rimas na minha mente
Posso gritar a toda a gente
Mas começa novamente
Posso saltar das palavras para as linhas
Ou das linhas para as ideias
E durante algum tempo monto a linha
Como monto a minha safra
Como calço as minhas meias
E nasce um poema que quebra a cor
Colorida da palavra
Bits de som e não muita forma
E repentinamente estou em lágrimas
Por ter quebrado a norma
Tenho de olhar para longe e esperar
Finalmente há silêncio
Silêncio voluptuoso
Exceto no poema vagaroso
Magoa-me com as tuas palavras
Ilude-me com as tuas magias
Pinta-me com as tuas tintas
Confunde-me o olhar
Finta-me com as tuas fintas
Asfixia-me com o teu respirar
Mostra-me o teu corpo
Fala comigo ao luar
Mostra-me o teu todo
Para me poderes magoar
o fel que sai dos teus olhos e das tuas ações
Algum poeta escreve que imagem é expressão de sentimentos, mas reflita que muitas vezes o sentido de um olhar, de um sorriso e de uma musica que tanto amo significa algum sentimento que ainda não foi suscitado através de palavras, essas podem conotar alegrias, tristezas, sabedorias, paixões, amor, ódio, esses sentimentos traduzidos em palavras geralmente nos mostram o quanto o ser humano pode ser gentil na mesma proporção em que ele é rude e até que se prove o fel dos seres já teríamos caminhando bastante por várias estradas que nem sei dizer.Essa escrita de hoje é para traduzir que um dia ele ou você poderão estar em um processo de desenvolvimento de gentileza assim como desse fel que tanto quero mostrar a vocês que dói, quase igual ao choro, só que ele é seco e frio, esse é o fel......
Viviana
Um dos níveis onde julgo que o poema se decide, - mais até do que ao nível das figuras de estilo ou da linguagem, - é ao nível das imagens que é capaz de gerar na mente do leitor, aquilo a que Shakespeare chamava “the mind’s eye”.
O termo imagem, em poesia, refere-se a uma palavra ou sequência de palavras capazes de gerar uma experiência sensorial no leitor, seja de tipo visual, auditivo, olfativo, ou outro. Para tanto concorrem, como matéria-prima basilar, as palavras, a criteriosa selecção de palavras com suas denotações e conotações.
A denotação ou significado de uma palavra refere-se ao seu sentido literal. A conotação diz respeito ao conjunto das associações e sugestões que a palavra suscita em cada leitor. João Miguel Fernandes Jorge sugere-o muito bem em “Poemas”, retirado de “O Regresso dos Remadores”:
POEMAS (1982)
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bemQuem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...Sou um reflexo...um canto de paisagemOu apenas cenário! Um vaivémComo a sorte: hoje aqui, depois além!Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagemDe um doido que partiu numa romagemE nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...Sou um verme que um dia quis ser astro...Uma estátua truncada de alabastro...Uma chaga sangrenta do Senhor...Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,Num mundo de maldades e pecados,Sou mais um mau, sou mais um pecador...Florbela Espanca
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Podia dizer apenas
que a vida é como um avião que passa
ou apenas um pássaro que voa,
mas a vida por mais que o negue
é isto mesmo,
é simplesmente a vida...
Podia chamar-lhe amor ou ódio,
insulta-la ou respeita-la,
denegri-la ou enaltece-la,
mas por mais que finjamos
a vida será sempre o cair da máscara
e o descer do palco,
deixando raiar o sol do meu pensamento
no luar dos sentimentos.
Esta vida é a vida de todos nós
que respiramos e lutamos contra a morte
em cada segundo que passa,
mas a vida para ser vivida
não é apenas isto,
existem as mãos,
existem ainda os corações
que gritam mais alto do que nós,
soando sua voz pela eternidade,
construindo e reconstruindo novamente
a vida que tanto queremos
e nunca alcançamos.
Viver é saber amar,
ser a natureza que nos vai na alma,
dar o mais profundo e sentido gesto
a quem dedicamos afinal a nossa vida.
Podia dizer apenas
que a vida é como um avião que passa
ou apenas um pássaro que voa,
mas a vida por mais que o negue
é isto mesmo,
é simplesmente a vida...
Podia chamar-lhe amor ou ódio,
insulta-la ou respeita-la,
denegri-la ou enaltece-la,
mas por mais que finjamos
a vida será sempre o cair da máscara
e o descer do palco,
deixando raiar o sol do meu pensamento
no luar dos sentimentos.
Esta vida é a vida de todos nós
que respiramos e lutamos contra a morte
em cada segundo que passa,
mas a vida para ser vivida
não é apenas isto,
existem as mãos,
existem ainda os corações
que gritam mais alto do que nós,
soando sua voz pela eternidade,
construindo e reconstruindo novamente
a vida que tanto queremos
e nunca alcançamos.
Viver é saber amar,
ser a natureza que nos vai na alma,
dar o mais profundo e sentido gesto
a quem dedicamos afinal a nossa vida.
Pois o próprio tempo é a poesia
Existe...Resiste ao tempo passante
Está no coração gigante e
Na alma do poeta
Sobrevivendo nas cores
Expressada dos amores!
Espalhadas em versos
Nos poemas vão cantando
Pelos cantos deste mundo
Nas asas do vento soprando...
As dores ...Em um verso chorado
Escondendo entre as flores
Que no fundo todo poeta
Morre de amores...Alucinantes
Mas renasce igual a fênix
A cada amor encontrado
Alcançando nos escritos
As sombras de amores passados
E assim vão poetando
A poesia renascendo
A cada tempo de um tempo
Onde a poesia é eterna!
Vive aqui
Vive acolá
E sempre viva será
Quisera ser a Água.
não ter o prejuízo da forma,
pra poder compreender todas as formas,
cor nem cheiro,
para impregnar-me de todas as cores da Terra
e de todos os perfumes das matas e dos campos.
A Água fotografa na retina móvel
lava na alma compassiva
as grandezas e misérias da Terra.
A Água quando se turva
é num segredo de útero
para o gesto dos peixes e das algas,
quando se salga
é a grande lágrima do Mundo — o Mar
Sangue nas veias do Planeta,
a Água rios flui. Vai sem pergunta,
sem plano e sem mealheiro.
Existe, e é útil: compre o seu destino.
Sabe que a espera o Mar.
Também sabemos
que nos espera um Mar.
Mas a Água sabe mais que nós:
o de que esquivamos nosso olhar:
que toda ela é o Mar.
E sobretudo sabe
que há de ir e de voltar
até a consumação dos ciclos.
Nem se lamenta. Sabe
que não há o que lamentar.
No Mar!...
Ah música de espumas!
No Mar!...
Ah vinhos de marulhos!
Ah conchas de silêncio!
Ah solidão do todo!
No Mar!...
E o Grande Coração bombeia as águas
para as artérias do ar.
A Água quando se eleva
não sabe de orgulho, nem de mesquinha altura.
Sabe a fortuna dos ventos,
a fecundidade das trevas.
E cumpre a Lei. Rosa
de nuvens
dá-se.
Água:
Vida que ao Sol nos move
e me comove.
AOS QUE ACREDITAM
Não temos pés de barro.
Nem mesmo nossos ombros
são nuvens.
Somos parte de
uma utopia que abala
o mundo.
Um sonho que transforma
o sílex em silêncio. Os que
não se rendem diante
do medo.
Os que não temem
as sombras.
Somos fabricantes de luzes.
Vaga-lumes em noite sem lua
ensinando o caminho da manhã.